Lendo este post do Mahna Mahna, sobre as meninas do LinuxChix, que precisaram criar um HowTo para ajudar os rapazes a incentivar mulheres a usarem o Linux (primeira lição: combater machismos), fiquei me lembrando dos problemas que tive (e tenho) por ser mulher e atuar em uma área estereotipada como masculina (direito + COMPUTADORES). Não posso reclamar dos meus amigos e conhecidos da área de exatas, todos sempre me trataram muito bem, e nunca me subestimaram nem me deram um tratamento diferente por ser mulher. Bem, quase todos. Um deles me tratava como dona de casa (só que a casa era do meu namorado e eu era quase tão visita quanto ele) além de ter achado que meu computador podia ser usado por ele sem minha autorização, inclusive pra instalar jogos. Mas esse sempre foi sem noção mesmo, e é a exceção dos meus amigos do Icex.
Já não posso falar a mesma coisa dos colegas do meio jurídico. Às vezes penso que deveriam ser coléguas, tamanhas as afrontas que já tive de agüentar. Um deles insinuou que eu não escrevia meus textos. Outro perguntou se meu currículo era "só isso". A maioria estranha o fato de eu gostar de computadores, e me olha meio como aberração. Já chamaram direito informático de "troço" ("você, que mexe com esse troço de direito e internet...") Já me apresentaram, antes de uma palestra, como a mulher do prof. Fulano. Mas teve duas situações que me incomodaram, durante defesas de monografias, e nem sei se eles perceberam o quanto foram grossos.
Em uma delas, quem estava me arguindo começou a fazer perguntas que fugiam um pouco do tema do trabalho. Era pra ser uma apresentação curta, com 10 minutos de perguntas, mas fiquei cerca de meia hora respondendo. Quando veio a pergunta derradeira, técnica demais e fora do tema (pegadinha mesmo, mas eu sabia), eu respondi corretamente e ele cutucou o colega do lado, gritando, admirado: "Olha, ela sabe isso!" Pô, sabia sim, que babaca! Fiquei arrasada com o tratamento, deram a entender que não acreditavam que eu tinha feito a monografia e que a defesa, longe de ser para discutir idéias, era para confirmar que a autoria do trabalho era minha. À medida que fui vendo as defesas dos demais, me senti um lixo, pois o tratamento foi bem mais respeitoso com os outros. Pra piorar, eu era uma das duas mulheres defendendo monografia e era a única acadêmica, os demais já eram eram bacharéis, no mínimo. Pro meu consolo, mais tarde encontrei alguns rapazes que assistiram a defesa, e eles me apoiaram, inclusive considerando o cara um babaca. Mesmo assim, o trauma foi grande.
Na outra defesa, a última pergunta foi: o que a minha intuição feminina achava do que havia sido discutido sobre a monografia. Sofri tanto pra fazer um trabalho científico, fundamentado, e vem alguém me considerar irracional a ponto de perguntar a opinião da minha intuição!!??? Consegui responder, até educada e lentamente, que tinha deixado a intuição em casa, pois não combinava com o tipo de trabalho que me propus a fazer, e fiquei repetindo as conclusões. Não faço a menor idéia se fiz alguma careta ou se o cara percebeu a besteira. Meu namorado estava assistindo, e me lembro até hoje do suspiro dele quando ouviu a pergunta (ele sabia que eu não ia gostar, e ficou com medo de uma reação mais violenta), e do sofrimento que foi para dar uma resposta razoavelmente educada.
Por causa de umas gracinhas dessas, pensei seriamente em largar tudo, e ficar quietinha advogando com coisas mais normais e femininas, como direito de família (olha o estereótipo!) Felizmente voltei ao normal, pois não tenho perfil pra advogar, e detesto direito de família. Fiquei muito feliz com a recepção que tive na Puc, todos acharam meus temas interessantes, e não senti discriminação por ser mulher. Mas as experiências anteriores me deixaram com o pé atrás. Deve ser por isso me identifico com as descrições das colegas do LinuxChix, e acho que a leitura do HowTo delas fundamental. Para os que nem sabem o que é Linux, é bom ler para entender como não se deve tratar uma mulher que tenha interesses diferentes. Afinal, o comportamento machista é o mesmo, só muda o assunto.
Já não posso falar a mesma coisa dos colegas do meio jurídico. Às vezes penso que deveriam ser coléguas, tamanhas as afrontas que já tive de agüentar. Um deles insinuou que eu não escrevia meus textos. Outro perguntou se meu currículo era "só isso". A maioria estranha o fato de eu gostar de computadores, e me olha meio como aberração. Já chamaram direito informático de "troço" ("você, que mexe com esse troço de direito e internet...") Já me apresentaram, antes de uma palestra, como a mulher do prof. Fulano. Mas teve duas situações que me incomodaram, durante defesas de monografias, e nem sei se eles perceberam o quanto foram grossos.
Em uma delas, quem estava me arguindo começou a fazer perguntas que fugiam um pouco do tema do trabalho. Era pra ser uma apresentação curta, com 10 minutos de perguntas, mas fiquei cerca de meia hora respondendo. Quando veio a pergunta derradeira, técnica demais e fora do tema (pegadinha mesmo, mas eu sabia), eu respondi corretamente e ele cutucou o colega do lado, gritando, admirado: "Olha, ela sabe isso!" Pô, sabia sim, que babaca! Fiquei arrasada com o tratamento, deram a entender que não acreditavam que eu tinha feito a monografia e que a defesa, longe de ser para discutir idéias, era para confirmar que a autoria do trabalho era minha. À medida que fui vendo as defesas dos demais, me senti um lixo, pois o tratamento foi bem mais respeitoso com os outros. Pra piorar, eu era uma das duas mulheres defendendo monografia e era a única acadêmica, os demais já eram eram bacharéis, no mínimo. Pro meu consolo, mais tarde encontrei alguns rapazes que assistiram a defesa, e eles me apoiaram, inclusive considerando o cara um babaca. Mesmo assim, o trauma foi grande.
Na outra defesa, a última pergunta foi: o que a minha intuição feminina achava do que havia sido discutido sobre a monografia. Sofri tanto pra fazer um trabalho científico, fundamentado, e vem alguém me considerar irracional a ponto de perguntar a opinião da minha intuição!!??? Consegui responder, até educada e lentamente, que tinha deixado a intuição em casa, pois não combinava com o tipo de trabalho que me propus a fazer, e fiquei repetindo as conclusões. Não faço a menor idéia se fiz alguma careta ou se o cara percebeu a besteira. Meu namorado estava assistindo, e me lembro até hoje do suspiro dele quando ouviu a pergunta (ele sabia que eu não ia gostar, e ficou com medo de uma reação mais violenta), e do sofrimento que foi para dar uma resposta razoavelmente educada.
Por causa de umas gracinhas dessas, pensei seriamente em largar tudo, e ficar quietinha advogando com coisas mais normais e femininas, como direito de família (olha o estereótipo!) Felizmente voltei ao normal, pois não tenho perfil pra advogar, e detesto direito de família. Fiquei muito feliz com a recepção que tive na Puc, todos acharam meus temas interessantes, e não senti discriminação por ser mulher. Mas as experiências anteriores me deixaram com o pé atrás. Deve ser por isso me identifico com as descrições das colegas do LinuxChix, e acho que a leitura do HowTo delas fundamental. Para os que nem sabem o que é Linux, é bom ler para entender como não se deve tratar uma mulher que tenha interesses diferentes. Afinal, o comportamento machista é o mesmo, só muda o assunto.