27.2.03

Lendo este post do Mahna Mahna, sobre as meninas do LinuxChix, que precisaram criar um HowTo para ajudar os rapazes a incentivar mulheres a usarem o Linux (primeira lição: combater machismos), fiquei me lembrando dos problemas que tive (e tenho) por ser mulher e atuar em uma área estereotipada como masculina (direito + COMPUTADORES). Não posso reclamar dos meus amigos e conhecidos da área de exatas, todos sempre me trataram muito bem, e nunca me subestimaram nem me deram um tratamento diferente por ser mulher. Bem, quase todos. Um deles me tratava como dona de casa (só que a casa era do meu namorado e eu era quase tão visita quanto ele) além de ter achado que meu computador podia ser usado por ele sem minha autorização, inclusive pra instalar jogos. Mas esse sempre foi sem noção mesmo, e é a exceção dos meus amigos do Icex.

Já não posso falar a mesma coisa dos colegas do meio jurídico. Às vezes penso que deveriam ser coléguas, tamanhas as afrontas que já tive de agüentar. Um deles insinuou que eu não escrevia meus textos. Outro perguntou se meu currículo era "só isso". A maioria estranha o fato de eu gostar de computadores, e me olha meio como aberração. Já chamaram direito informático de "troço" ("você, que mexe com esse troço de direito e internet...") Já me apresentaram, antes de uma palestra, como a mulher do prof. Fulano. Mas teve duas situações que me incomodaram, durante defesas de monografias, e nem sei se eles perceberam o quanto foram grossos.

Em uma delas, quem estava me arguindo começou a fazer perguntas que fugiam um pouco do tema do trabalho. Era pra ser uma apresentação curta, com 10 minutos de perguntas, mas fiquei cerca de meia hora respondendo. Quando veio a pergunta derradeira, técnica demais e fora do tema (pegadinha mesmo, mas eu sabia), eu respondi corretamente e ele cutucou o colega do lado, gritando, admirado: "Olha, ela sabe isso!" Pô, sabia sim, que babaca! Fiquei arrasada com o tratamento, deram a entender que não acreditavam que eu tinha feito a monografia e que a defesa, longe de ser para discutir idéias, era para confirmar que a autoria do trabalho era minha. À medida que fui vendo as defesas dos demais, me senti um lixo, pois o tratamento foi bem mais respeitoso com os outros. Pra piorar, eu era uma das duas mulheres defendendo monografia e era a única acadêmica, os demais já eram eram bacharéis, no mínimo. Pro meu consolo, mais tarde encontrei alguns rapazes que assistiram a defesa, e eles me apoiaram, inclusive considerando o cara um babaca. Mesmo assim, o trauma foi grande.

Na outra defesa, a última pergunta foi: o que a minha intuição feminina achava do que havia sido discutido sobre a monografia. Sofri tanto pra fazer um trabalho científico, fundamentado, e vem alguém me considerar irracional a ponto de perguntar a opinião da minha intuição!!??? Consegui responder, até educada e lentamente, que tinha deixado a intuição em casa, pois não combinava com o tipo de trabalho que me propus a fazer, e fiquei repetindo as conclusões. Não faço a menor idéia se fiz alguma careta ou se o cara percebeu a besteira. Meu namorado estava assistindo, e me lembro até hoje do suspiro dele quando ouviu a pergunta (ele sabia que eu não ia gostar, e ficou com medo de uma reação mais violenta), e do sofrimento que foi para dar uma resposta razoavelmente educada.

Por causa de umas gracinhas dessas, pensei seriamente em largar tudo, e ficar quietinha advogando com coisas mais normais e femininas, como direito de família (olha o estereótipo!) Felizmente voltei ao normal, pois não tenho perfil pra advogar, e detesto direito de família. Fiquei muito feliz com a recepção que tive na Puc, todos acharam meus temas interessantes, e não senti discriminação por ser mulher. Mas as experiências anteriores me deixaram com o pé atrás. Deve ser por isso me identifico com as descrições das colegas do LinuxChix, e acho que a leitura do HowTo delas fundamental. Para os que nem sabem o que é Linux, é bom ler para entender como não se deve tratar uma mulher que tenha interesses diferentes. Afinal, o comportamento machista é o mesmo, só muda o assunto.

20.2.03

Eta dia complicado! Primeiro ligaram pra minha casa, quando eu estava almoçando, pra oferecer acesso do Uol. Interrompi a moça arrogante e perguntei como ela tinha obtido meu telefone. Ela tentou voltar pra oferta, não soube dizer a origem do meu número, tivemos um lindo bate-boca e desliguei o telefone furiosa, não sem antes mandar que nunca mais me ligassem. Oras, não forneço meu telefone fixo (que não consta na lista nem está em meu nome) sem motivos (nunca vai ser pra telemarketing!) Ela disse que é por acessar a Internet (já vai pra 2 anos que não acesso a Internet com meu nome), ou ter me cadastrado (desde quando eu me cadastraria em telemarketing do uol?) O pior: eu, que sou fanática por privacidade, sempre recebo ligações de telemarketing (e nunca consigo identificar o infeliz do #&# que espalhou o telefone). Já o Túlio, além de ser superdescuidado com o assunto e não receber ligações desse tipo, ainda fica rindo da minha raiva...

Complicações parte 2: depois de vários problemas, gastei uma hora e meia pra cancelar o meu cartão de crédito. A gota d'água? Uma atendente me fez abrir uma ocorrência desnecessária (dizendo que era a única forma de receber um crédito de cancelamento de assinatura de revista), fez com que me devolvessem indevidamente o valor de uma parte do crédito, e agora vieram me cobrar esse valor com juros! Detalhe: parcela de R$17,35, juros de R$3,51, taxa de juros de 9% ao mês. Façam as contas! Pedi esclarecimentos, e depois de um tempinho me informaram que não vou precisar pagar os juros. Prezam a transparência (eu ouvi isso!) e fazem essa gracinhas... como não é a primeira burrada (e o que escrevi é só uma parte da história), perdi a confiança de vez, e nem quero saber desse povo.

Uma tonelada de e-mail atrasado pra responder, trabalhos de faculdade pra fazer, uma pilha de livros pra ler, e eu lá, vendo meu almoço esfriar e perdendo uma hora e meia pra cancelar um cartão...

12.2.03

Mais um choque: o Museu do Spam acabou.
Pra ajudar no estardalhaço, escrevi um artigo contra a censura prévia. Está na página inicial do Direitoinformatico.org, na Consultor Jurídico e no Observatório da Imprensa. Não ficou exatamente como eu queria (nunca fica), mas reflete minha indignação com o assunto.
Se alguém achar que vale a pena divulgar, fique à vontade, mas preserve a autoria e a fonte.
Vi, em vários sites que visitei, gente feliz porque a editora Abril foi censurada. Espero que seja suficiente repetir aqui o comentário que fiz no Carta Aberta, do César Valente:

Não sei o que é pior: se a censura prévia, ou quem acredita que a censura é justificável por ter atingido a Abril. Não concordo com os pontos de vista da editora, mas isso não me impede de reconhecer que houve censura. Se formos dividir o mundo em os que devem e os que não devem ser censurados, destruímos toda e qualquer liberdade de expressão e impomos o pensamento único, típico de uma ditadura.

Vi, em vários sites que visitei, gente feliz porque a editora Abril foi censurada. Espero que seja suficiente repetir aqui o comentário que fiz no

8.2.03

Ainda estou chocada. Já fizeram censura prévia no Correio Braziliense, já tiraram do ar o site de um descontente com o não-serviço da Fiat (é, ele pagou, não recebeu o carro nem explicações, fez um site de protesto e só aí a Fiat se manifestou, exigindo - e conseguindo- a retirada da página), só pra ficar em dois exemplos recentes, e agora uma revista da editora Abril que tinha como reportagem de capa as empresas de recolocação profissional sofreu CENSURA PRÉVIA.

O pior: a decisão pune ANTES da publicação, pois a revista tem de mostrar a reportagem para a empresa e já conceder direito de resposta (com igualdade de espaço e destaque) ao que a empresa considerar fato negativo para ela. Bem ao estilo Minority Report, o juiz concedeu, na liminar, direito de resposta por uma suposta ofensa que ainda não ocorreu, e que só vai ocorrer se houver a publicação!!!

Para completar, o comentário do jornalista César Valente: (...)Finalmente, levado adiante, esse entendimento inviabiliza o jornalismo tal como o conhecemos. Vejam só: o juiz autoriza que a empresa Dow Right Consultoria em Recursos Humanos Ltda. edite a matéria da revista e prepare o texto final que essa revista publicaria sobre ela. Caso contrário, não se poderá falar na empresa, no que ela faz, fez, deixou de fazer. Ninguém está ligando, a esta altura, se o que vamos dizer é bem apurado, bem fundamentado e verdadeiro. (...)

No site da Consultor Jurídico tem o texto da liminar, pra quem quiser ver com quais palavras foi feito esse desvirtuamento completo da liberdade de imprensa.

7.2.03

Template novo (com muitos probleminhas ainda), pra finalmente começar o ano novo...